Curso FB I - Santíssima Trindade

Aprofundamento da experiência com Trindade Santa por meio da doutrina da Igraja e da oração

Grupo de Oração Shalom!

Venha viver uma experiência com o amor de Deus!

Caminho da Paz

Itinerário Espirital da Comunidade Shalom

22 setembro 2011

Por que eu não posso confessar só a Deus?

Na verdade, nossas maiores confusões partem do fato de nos perguntarmos assim: “Por que confessar-me a um sacerdote, homem pecador com o eu, e não diretamente – e só – a Deus?” Quando assim fazemos, nossos olhos estão apenas em nós e em nossa “liberdade” e/ou comodidade, e não em Deus, em Sua liberdade e misericórdia.
É obedecendo às palavras de Cristo que nos confessamos não somente a Deus, mas também a um sacerdote, homem igual a mim e a você. Acontece, porém, que ele foi escolhido por Deus e Dele recebeu uma graça e uma autoridade, através destas palavras ditas pelo próprio Cristo e transmitidas a todos os sacerdotes: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 23). Em relação a isso, à graça e autoridade que Jesus lhe deu, não importando sua condição de pecador, é que o sacerdote é diferente de mim e de você.
O sacramento da reconciliação (outro nome da confissão) é um mistério da misericórdia de Deus. Veja comigo: fato de nos confessarmos com um homem, pecador, só conta a nosso favor, justamente porque esse sacerdote com o qual me confesso sabe o que é a fraqueza humana, experimenta na sua vida o que é a luta contra o pecado, “sabe compadecer-se dos que estão na ignorância, porque também ele está cercado de fraqueza.” (Hb 5 2). Porém, não obstante a essa sua condição humana e frágil, sobre ele repousa uma graça e uma autoridade, dada por Cristo, para perdoar nossos pecados.
Em Lc 5, 12-16 temos a cura de um leproso, realizada por Jesus: “Ordenou-lhe Jesus que não o contasse a ninguém, dizendo-lhe, porém: ‘Vai e mostra-te ao sacerdote...’” (v.14a). Prestando atenção e “mergulhando” nessa passagem bíblica, nós podemos ouvir as palavras de Jesus, que fala ao leproso, mas fala também a todas as pessoas que pecaram, se arrependeram e querem voltar à comunhão com Deus e com os irmãos. Observe que Cristo ordena que o leproso não conte nada a ninguém, mas em relação ao sacerdote Cristo diz: “Vai e mostra-te”.É também por isso que devo confessar-me a um sacerdote, obedecendo a Cristo, que quis escolher mediadores da Sua misericórdia.
Nossa posição em relação à confissão é uma questão de fé e humildade. Preciso crer que há um Deus que, por amor a mim, me perdoa através das palavras e gestos de uma pessoa humana; depois, preciso reconhecer que resisto a ser pequeno diante de Deus. Infelizmente, o que muitas vezes quero fazer é viver sem Deus, sem seu perdão, ser Deus no lugar Dele e salvar-me a mim mesmo, ou negar minha necessidade de salvação, sem ter que “encará-lo”. Seria muito fácil e cômodo se eu me confessasse para o nada, para mim mesmo ou, como muitas vezes dizem,“diretamente a Deus”. Mas, se Deus aparecesse agora e dissesse que só deveríamos nos confessar a Ele, diretamente, sem nenhuma mediação humana –acredite – a resistência, as dúvidas e/ou a falta de fé seria exatamente as mesmas: por que me confessar a Deus? E a minha liberdade? Continuariam a se perguntar. Sabe por quê? Porque o problema está dentro de nós e não fora, e não em Deus ou nos seus sacerdotes.
A verdade de fundo para toda essa resistência é o medo de Deus. Você e eu temos medo de Deus, assim como Adão e Eva, depois de terem pecado (cf. Gn 3, 8-10). Por exemplo, se alguém ofende gravemente um grande amigo, será fácil contar a ofensa pra qualquer pessoa, até dizer a outros o quanto se está arrependido, mas será muito difícil conversar sobre a ofensa e pedir perdão para o próprio amigo, a quem ofendemos. Passaremos um tempo evitando sua presença e será dificílimo olhar-lhe nos olhos. Se tivermos coragem para, livremente, pedirmos perdão a esse amigo, é porque o conhecemos, sabemos que Ele não nos condenará e que podemos contar com seu perdão.
Daí, concluímos que precisamos, você e eu, conhecer mais a Deus, travar uma amizade sincera com Ele, para que não sejamos daqueles que se afastam da Igreja e de Deus por acharem que Ele é um homem cujo principal divertimento é anotar um por um os nossos pecados, para depois castigar-nos. Se não formos amigos de Deus e vivermos seguindo apenas a opinião que os outros têm Dele, correremos o risco de achar muito comum que haja em cada esquina um posto de distribuição de drogas, abortivos e anticoncepcionais e, ao contrário, ficaremos escandalizados pelo fato de Deus ter desejado nos dar, em cada sacerdote, um “posto de distribuição” da Sua infinita misericórdia.
O sacramento da confissão é o único “tribunal” no qual entro, confesso-me culpado, e saio completamente absolvido.


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por
Comunidade Shalom

12 setembro 2011

A aceitação de si mesmo

É preciso desejar ser santo e reconhecer que não há santidade sem aceitação de si mesmo. As duas atitudes não se opõem. Precisamos reconhecer nossos limites, mas nunca ter face a eles uma atitude resignada ou medíocre, ao contrário, convém ter um desejo de mudança que não seja uma rejeição de nós mesmos.
Para todo esse processo, é necessário suplicar que o Espírito Santo nos dê a graça da aceitação da verdade e da humildade, e isso não é fácil, porque o orgulho e o medo de não ser aceito e a frágil convicção do nosso valor estão muito enraizados em nós. Só o olhar de Deus pode nos curar, porque o Senhor mesmo disse que temos valor aos seus olhos e que Ele nos ama (cf. Is 53,4).Trazemos em nós uma necessidade vital do olhar do outro, seja de um amigo, um parente ou uma autoridade espiritual, mas é certo que o olhar de Deus vale mais que todos os olhares, pois é o olhar do amor e da verdade que há no mais íntimo de nós.
O livro “A volta do Filho Pródigo”, de Henri Nouwen, evidencia a urgente necessidade de um dia em nossa vida termos a experiência de reconhecer que a nossa verdade está estampada nos olhos de Deus:“Por muito tempo eu achei que era uma espécie de virtude ter baixa auto-estima. Fui tantas vezes prevenido contra o orgulho e a presunção que acabei achando que era bom me depreciar. Mas agora compreendo que o verdadeiro pecado é negar o amor primeiro de Deus por mim e ignorar a bondade original. Porque sem reivindicar esse primeiro amor e essa bondade original, perco contato com o meu verdadeiro eu e enveredo, entre pessoas e lugares errados, numa busca destrutiva pelo que só pode ser achado na casa de meu Pai" [1].


[1] Nouwen, Henri. A volta do filho pródigo. 4ªed. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 117.

por Márcia Fernanda Moreno dos Santos

04 setembro 2011

Escolher o Belo

Com a massa das ofertas que têm comprometido de forma sutil a nossa capacidade de avaliar o bem verdadeiro e escolhê-lo, temos entrado – com a mesma sutileza com que somos atingidos – numa grande crise de apreciação. A velocidade e o volume do que nos é apresentado e a “multidão” das facilidades têm imposto aos nossos sentidos a busca da felicidade a qualquer preço, sem perder um segundo; e temos sofrido um “assalto à nossa liberdade”. Em que sentido?
O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Enquanto não se tiver fixado definitivamente em seu bem último, que é Deus, a liberdade comporta a possibilidade de escolher o bem e o mal” (Cat, 1732) e ainda: “É falso pretender que o homem, sujeito à liberdade, baste a si mesmo, tendo por fim a satisfação de seu próprio interesse no gozo dos bens terrenos” (Cat, 1740).
O que a Igreja quer nos advertir com essas palavras? Que não somos obrigados a decidir pelas conveniências da atualidade que pressionam os nossos sentidos, mesmo quando o nosso coração humano apela pela felicidade. Existem, de fato, muitas ânsias dentro de nós e é bastante compreensível os nossos entusiasmos diante do fácil, entretanto, nem tudo deve ser permitido pelo fato de ser compreensível. Exatamente pelo dom da liberdade que trazemos, devemos avaliar, ver se o que escolhemos não mina necessariamente esse dom precioso, a fim de que o apelo que nos libera não se torne nossa prisão.
Têm-se feito várias reflexões sobre a gravidade e os efeitos dos antivalores, mas o enfoque urgente deve ser a necessidade da experiência com o Belo e o Bem verdadeiro.
É muito válido termos a consciência e a percepção das “vantagens” que impõem aos nossos sentidos uma escolha imediata do que, muitas vezes, compromete de maneira nociva a realização do nosso coração humano. Existe um imediatismo tragando de nós aquela pausa salutar que nos permite ver, apreciar e julgar o bem em questão; não é apenas a consciência da gravidade que nos faz recuar diante dos antivalores, mas uma proximidade com o Belo é que pode nos fazer escolher, além de identificar o bem verdadeiro.
Sendo Cristo o Belo e o Bem por excelência, já não podemos acomodar nossas escolhas aos ritmos da cultura, da moda e de toda e qualquer linguagem de felicidade que não seja Ele mesmo a referência, porque tudo aquilo que não nos direciona a este fim compromete gravemente nossa liberdade: “A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus” (Cat, 1731). Tudo aquilo que nos lança nesse imediatismo entorpece nossa capacidade de identificar e reagir àquilo que é mal e só a experiência de trazer os sentimentos de Cristo pode filtrar e definir em nós o que nos torna verdadeiramente livres.
A ênfase dessa questão não é a definição exata da liberdade, mas a necessidade da experiência com o Bem que nos imprime os valores sólidos que devem ser base das nossas escolhas e presidir a nossa apreciação. O problema deixa de ser o volume e a velocidade do que nos incute os ritmos da cultura, da moda, da mídia em geral, e vem a ser a gravidade de uma consciência embotada, que por isso urge em retornar ao que é belo e bom em definitivo. Não se trata de uma culpa isolada dos antivalores, mas de uma responsabilidade individual e comunitária de examinar onde estão firmados os nossos critérios, quais são suas referências.
Agora ou nunca
Estamos todos sob a ordem do “agora ou nunca” de uma avalanche de toda espécie de valores, no entanto, se estivermos sob o escudo de preferirmos Deus a tudo, a liberdade será preservada e autêntica, uma vez instruídos pelo que de fato é Belo e Bom. Tudo aquilo que contraria a finalidade da nossa existência que é ser para Deus não pode sob nenhuma circunstância ser nomeado liberdade e hesitar à ordem do “seja livre para escolher” não nos torna menos livres, ainda que fiquemos, por preferir a Deus, sem um lugar no mundo.
Temos alegado sede de felicidade ao gastar nossos ânimos no que tem nos lançado tão longe dela, sem dar-nos conta de que o problema da felicidade, hoje, é também ignorar seu Autor verdadeiro.

Meyr Andrade de Sousa
Missionária da Comunidade Católica Shalom